Beatriz
de Sousa
beatriz jorge de sousa
um bom par de ovários
Este projeto começou como sequência natural dos assuntos que tratei no meu filme MESA POSTA, nomeadamente a necessidade que senti em dar voz a histórias de mulheres. Acabou por afunilar para as temáticas da menstruação e da educação sexual, por ter percebido, em fase de pesquisa, com dezenas de mulheres, que eram assuntos onde existia falta de literacia. O meu objetivo era desmistificar essas questões, contudo, conforme a pesquisa estreitou, percebi que estava à procura nas outras mulheres de partes dos meus traumas e que nos traumas delas, me procurava a mim. Percebi que no meu florescimento sexual, em pré-adolescente, sangrei muitas e muitas vezes, por traumas sexuais graves, que só agora estava a desenterrar. Dessa forma, este projeto reflete a mulher no geral, mas acabou a direcionar-se para mim.
A minha rosa sexual tem estado em sangramento interno há anos - percebi que me deixei abusar durante muitos anos e isto é algo que se fala muito pouco: o nosso própria abuso. O abuso acontece do outro para connosco, mas também pode acontecer de mim para mim. Eu abusei sexualmente de mim própria quando era mais nova, dava o meu corpo a muitos rapazes, oferecia-me porque achava que assim ia conseguir a aprovação e a aceitação que qualquer miúda de 12 anos quer - não percebia o mal que estava a fazer comigo - e pela falta de educação sexual, pela repressão da sexualidade nas escolas e na sociedade, o problema só tendeu a agravar-se. Ninguém ajuda. Ninguém intervém. Quando assim é, és só a puta da escola. Ninguém percebe que essas pessoas, às vezes mais do que outras, gritam por ajuda, por educação e por alinhamento. Como é que digo às pessoas que fui abusada por um rapaz, quando era eu que me oferecia? A resposta veio em tom de: abusei de mim. A sociedade abusou de mim. A falta de educação sexual abusou de mim. O silêncio abusou de mim. Os manipuladores e aproveitadores sexuais abusaram do meu abuso.
Por tudo isto, este projeto tornou-se extremamente íntimo. É baseado nos meus traumas sexuais, no bullying sexual que sofri quando andava na escola e num relacionamento abusivo que vivenciei durante 8 anos. O principal objetivo é promover através das práticas artísticas, da cultura e do espaço artístico, a consciência para problemas como estes, desmistificando-os através da arte e da promoção do diálogo. Quer-se dar voz a quem, como eu, não a teve, permitindo o combate a este tipo de violência - sexual, psicológica, mental, de género, etc.
Beatriz de Sousa
This project started as a natural sequence of the subjects I worked in my film MESA POSTA, namely the need I felt to give voice to women's stories. It ended up on the themes of menstruation and sex education, having realized, in the research phase, with dozens of women, that these were subjects where there was a lack of literacy. My goal was to demystify these questions, however, as the research narrowed, I realized that I was looking for parts of my trauma in other women and that in their traumas, I was looking for me. I realized that in my sexual flowering, as a pre-teen, I bled many, many times, from severe sexual trauma, which I was only now digging up. In this way, this project reflects women in general, but ended up targeting me.
My sexual rose has been bleeding internally for years - I realized that I let myself be abused for many years and this is something that is talked about very little: our own abuse. Abuse happens from the other to us, but it can also happen from me to me. I sexually abused myself when I was younger, I gave my body to a lot of boys, I offered it because I thought it would get the approval and acceptance that any 12 year old girl wants - I didn't understand the harm I was doing to me - and the lack of sex education, the repression of sexuality in schools and in society, the problem only tended to get worse. Nobody helps. Nobody intervenes. When that's the case, you're just the school bitch. No one realizes that these people, sometimes more than others, cry out for help, for education and for alignment. How do I tell people I was abused by a boy when I was the one offering myself? The answer came in a tone of: I abused myself. Society abused me. The lack of sex education abused me. The silence abused me. The sexual manipulators and profiteers abused my abuse.
For all these reasons, this project became extremely intimate. It's based on my sexual trauma, the sexual bullying I suffered when I was in school and the domestic violence I was a victim of for 8 years. The main objective is to promote, through artistic practices, culture and artistic space, awareness of problems like these, demystifying them through art and promoting dialogue. I want to give voice to those who, like me, have not had it, allowing the fight against this type of violence - sexual, psychological, mental, gender, etc.
Beatriz de Sousa
intro |
nucleus |
context
press |
início | home
instagram